Nesses dias, meu amigo, tínhamos medo das pessoas assassinadas. Não tínhamos medo dos assassinos, mas dos assassinados.Tínhamos medo da cal viva. Tínhamos medo que os mortos se levantassem e avançassem para nós, trazendo consigo a cal que os cobria e as nuvens de moscas que os rodeavam.
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Ele amava-a como se ela fosse a mulher de outro homem.
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O peixe do mar de Tiberíades não acaba. A Galileia é isso, peixe, Cristo e pescadores. Eles não conhecem a Galileia. Tentam criar uma indústria de pesca. Como podem industrializar a água sobre a qual caminhou Cristo?
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Pendurarei aqui todas as fotografias. Viveremos rodeados pelas fotografias.
Tirarei uma da parede, dou-ta e tu contarás uma história. Depois dar-te-ei outra, e tu contarás outra história. Suceder-se-ão as histórias.
Assim, organizaremos a nossa história desde o início, sem deixar uma única falha por onde a morte se possa infiltrar.
(Fragmentos de «A Porta do Sol», de Elias Khoury)